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Efeitos da restrição nutricional durante a gestação de ovelhas sobre os índices produtivos do rebanho – I de III

Autoras do artigo:

Mylena Taborda Piquera Peres – Zootecnista formada pela Universidade Federal do Paraná.
Juliana Varchaki Portes – Zootecnista formada pela Universidade Federal do Paraná, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Paraná.

O consumo de carne ovina vem crescendo e ganhando destaque no Brasil, porém, por problemas de nosso sistema produtivo, 50% da carne consumida aqui é importada, vindo principalmente do Uruguai. Com isso, torna-se necessária a correção de alguns pontos ainda falhos para que a produção de carne seja adequada e autossustentável dentro do nosso território. Dentre os fatores fundamentais para uma produção de ovinos adequada podemos destacar uma correta nutrição, em especial nos momentos reprodutivos, uma vez que estas influenciarão diretamente na produtividade do rebanho e consequentemente no bolso do produtor.

As funções reprodutivas são as primeiras a serem afetadas pelas falhas nutricionais, tanto em animais que irão iniciar a vida reprodutiva quanto para os que já estão em reprodução (Figura 1).

Figura 1 – Efeitos da nutrição da ovelha durante a gestação.



Em condição de deficiência nutricional, o organismo animal determina quais mecanismos são os mais importantes numa ordem de prioridades para usar a energia disponível; nestes casos, as funções vitais ocupam os primeiros lugares na escala, na qual a reprodução é tratada com pouquíssima prioridade, apesar de este ser um dos eventos mais importantes para o sucesso produtivo da ovinocultura. Os mecanismos reprodutivos só serão reativados quando a quantidade e qualidade de nutrientes estiverem adequadas à dieta, a condição corporal do animal atingir um escore ideal e todas as funções vitais estiverem sendo supridas nutricionalmente.

Na ovinocultura brasileira, um dos grandes problemas é a falta de forragem disponível nos meses em que o pasto está comprometido devido ao clima desfavorável à espécie vegetal, visto que 20% das ovelhas dos rebanhos do país apresentam estado nutricional tão débil que não conseguem conceber, e outras 20% perdem suas crias ainda na fase de gestação, problemas acarretados pela negligência no programa nutricional dos animais (Ribeiro, 1995) e que pode levar, consequentemente, a uma menor disponibilidade de carne ovina e uma sazonalidade na produção.

Os meses de maio a agosto, em geral, são os de menor disponibilidade de alimentos e é neste período em que as borregas, ovelhas e machos reprodutores estão em estação reprodutiva (Figura 2); nesta época, é necessária atenção especial com os animais em estação de monta, fêmeas gestantes e em lactação, uma vez que a alimentação influencia a taxa de ovulação nas ovelhas, produção espermática nos machos, fertilidade, sobrevivência embrionária, produção leiteira, desenvolvimento do feto, dentre outros (Rosa et al., 2007). A baixa quantidade e/ou qualidade de volumosos é a principal causa de deficiência energética na dieta de ruminantes.

Figura 2 – Condição de pastagem na estação seca (de maio a agosto), na região Centro-Oeste, em piquete de fêmeas gestantes da raça Santa Inês.



A proteína é parte constituinte de órgãos e tecidos do organismo animal, sendo necessária em especial durante as fases de crescimento e recuperação de tecidos (Maynard et al., 1984) e, para ovinos, a qualidade da proteína é mais importante do que a quantidade. Logo, o requerimento proteico da fêmea gestante deve suprir as necessidades do feto, do útero gravídico e o desenvolvimento da glândula mamária.

No início da gestação de ovelhas (de 0 a 100 dias), o crescimento do feto é influenciado pela genética da raça e as necessidades nutricionais do cordeiro são baixas, havendo a diferenciação dos tecidos fetais para o desenvolvimento dos órgãos. Além das necessidades nutricionais da ovelha serem ligeiramente maiores do que o necessário para sua mantença, o consumo de alimento volumoso ainda continua o mesmo devido ao pequeno tamanho do útero na cavidade abdominal, sem pressionar o rúmen da fêmea. Já o terço final da gestação é o período mais crítico, pois o desenvolvimento fetal ocorre nessa fase e a glicose proveniente da dieta materna é a principal fonte energética para seu desenvolvimento e saúde das crias no útero (HAMADA et al., 2013). Nos últimos 50 dias de gestação, o peso do cordeiro pode aumentar 90%, enquanto a demanda energética da fêmea prenhe aumenta 60% em relação ao período anterior de gestação (NRC, 2007). No caso de gestação múltipla, a situação da ovelha complica-se ainda mais, pois a dieta fornecida para gestantes de um único cordeiro não terá a densidade energética necessária para suprir os requerimentos de uma gestação de mais de um cordeiro. Além disso, a gestação múltipla acarreta maior compressão ruminal, visto que o volume uterino também é maior.

Sabendo-se que o desempenho reprodutivo dos ovinos é influenciado majoritariamente pela nutrição em diversos aspectos, os próximos dois artigos terão como objetivo explanar sobre as necessidades nutricionais das fêmeas ovinas durante a gestação e o impacto da restrição nutricional materna na produtividade do rebanho, especialmente na produção de cordeiros, dando-se ênfase na nutrição proteica e energética.

Referências bibliográficas

HAMADA, D.H.M.; SAMEH, G.A.R.; MOHAMED, A.Y.H.; ENAS, A.K.Z.; Effect of maternal feeding in late pregnancy on behavior and performance of Egyptian goat and sheep and their offspring. Global Veterinarian, v. 11, p. 168-176, 2013.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of small ruminants: sheep, goats, cervids and new camelids. Washington, D.C.: National Academy Press, 384p., 2007.

RIBEIRO, L.A.O.; Perdas reprodutivas em ovinos do estado do Rio Grande do Sul: causas e soluções. Simpósio Paulista de Ovinocultura. Anais… p. 11-124, 1995.

ROSA, G.T.; SIQUEIRA, E.R.; GALLO, S.B.; MORAES, S.S.S. Influência da suplementação no pré-parto e da idade de desmama sobre o desempenho de cordeiros terminados em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia., v.36, n.4, p.953-959, 2007.

SIQUEIRA, E. R. Confinamento de cordeiros. Em: V SIMPÓSIO PAULISTA DE OVINOCULTURA E ENCONTRO INTERNACIONAL OVINOCULTORES. Anais… Botucatu: [s.n.], 1999.

Fonte: Farmpoint

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