Características produtivas de cordeiros confinados com dietas de alto grão

Autores do artigo:

1) Guilherme Meneghello Carvalho Bernardes – Zootecnista. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPGZ) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
2) Sérgio Carvalho – Zootecnista. Doutor. Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da UFSM.
3) Rafael Sanches Venturini – Zootecnista. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPGZ) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

As mudanças na ovinocultura são constantes, sendo que uma das maiores transições, nesse sentido, foi a modificação do foco da ovinocultura laneira pela ovinocultura especializada na produção de carne, produto esse que vem sendo bastante valorizado na cadeia produtiva. Obviamente que toda a valorização é acompanhada de uma maior exigência. Krolow (2005) comenta que os consumidores são influenciados pela qualidade e aceitabilidade da carne e consequentemente por características relacionadas aos aspectos nutritivos, sensoriais e tecnológicos.

Associado a uma produção especializada na cadeia da carne ovina, temos que buscar sistemas mais eficientes zootecnicamente e que apresentem resultado econômico positivo, fator que promove a sustentação da continuidade da atividade. O sistema de confinamento, além destas características, apresenta-se também como uma alternativa viável para o aumento da oferta de carne ovina, pois permite a produção desses animais em grande escala em pequenas áreas (Medeiros et al., 2009).

Tradicionalmente a produção em confinamento apresenta grande participação de volumosos na dieta dos cordeiros podendo, muitas vezes, tornar-se um entrave nesse sistema, pois a confecção de volumosos além de sofrer influencias climáticas, necessita de demanda de área, maquinário e recursos humanos tanto para a confecção como para o fornecimento. A partir disso, a utilização de dietas de alto grão em sistemas de confinamento se torna uma ferramenta capaz de trazer grande benefício à produção ovina. A utilização de dietas de alto grão proporciona uma facilidade no manejo diário de alimentação, além de apresentar pequena variabilidade na composição bromatológica, já que os grãos são processados industrialmente. Essa padronização é interessante do ponto de vista do controle das exigências nutricionais dos animais, pois se podem formular de maneira mais segura dietas corretas sem custos com análise prévias dos ingredientes.

Assim, apresentamos alguns resultados obtidos no trabalho de mestrado desenvolvido no Laboratório de Ovinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, no período de agosto a novembro de 2012. Foram utilizados 32 cordeiros machos, castrados, da raça Texel, oriundos de parto simples e desmamados com aproximadamente 50 dias de idade.

Os animais foram confinados em baias individuais, totalmente cobertas, com piso ripado, aproximadamente 1,0 m acima do solo, com dimensão de 2 m² por animal, e providas de comedouros e bebedouros individuais. Os tratamentos foram constituídos por diferentes tipos de grãos, não processados, sendo: Grão de milho (Zea mays), grão de aveia branca (Avena sativa), grão de aveia preta (Avena stringosa), grão de arroz com casca (Oryza sativa L.) A dieta era constituída principalmente pelo grão testado, acrescido de 15% de um núcleo concentrado comercial, farelo de soja (para tornar as dietas isoprotéicas) e calcário calcítico (para manter a relação Ca:P 2:1) (Tabela 1). A ração foi ofertada aos animais ad libitum, duas vezes ao dia, sendo os horários de arraçoamento às 8:00 e 17:00 horas. A quantidade oferecida foi ajustada em função da sobra observada diariamente, sendo que esta deveria ser 10% da quantidade oferecida no dia anterior, de modo a garantir o consumo voluntário máximo dos animais.

Tabela 1 – Proporção dos ingredientes (%MS) e composição bromatológica das dietas experimentais. Clique na imagem para ampliar***

No momento em que os animais atingiam o peso de abate pré-estabelecido de 32 kg, estes eram pesados (PVFAZ), e se iniciava o período de jejum de sólidos e líquidos, estendendo-se por 14 horas. Após este período de jejum, os animais eram novamente pesados (PVA) e avaliados quanto ao escore de condição corporal (ECC) e conformação (CONF).

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e oito repetições. As variáveis foram avaliadas por meio de análise de variância, adotando-se o nível de 5% de significância. As médias foram comparadas pelo teste t de Student, utilizando-se do pacote estatístico SAS (2004).

Na tabela 2 apresentamos os resultados das características produtivas de cordeiros confinados com dietas de alto grão.

Tabela 2 – Valores médios para peso vivo inicial (PVI), peso vivo de fazenda (PVFAZ), peso vivo ao abate com jejum (PVA), quebra ao jejum (QJ), ganho de peso médio diário (GMD), conversão alimentar (CA), número de dias para o abate (DIAS), conformação (CONF) e escore de condição corporal (ECC), de acordo com os tratamentos. Clique na imagem para ampliar***

Notamos que as variáveis, peso vivo inicial (PVI), peso vivo de fazenda (PVFAZ) e o peso vivo ao abate com jejum (PVA) foram semelhantes entre os tratamentos, demonstrando que os animais foram divididos em lotes homogêneos, assim proporcionado confiabilidade nos resultados obtidos.

Devido a um menor teor de FDN e maior CNE, o tratamento de milho foi superior na quebra ao jejum (QJ), em kg e em %PV, explicado pela maior taxa de passagem e de desaparecimento de conteúdo gastrintestinal durante o período de jejum pré-abate dos animais.

O GMD dos cordeiros do tratamento milho apresentaram os melhores resultados em relação aos demais tratamentos. Valores próximos (0,309 kg/dia) foram encontrados por Borges et al. (2011), também trabalhando com dietas de alto grão utilizando a raça Texel. Os resultados inferiores obtidos no tratamento de arroz com casca estão relacionados a grande presença de sílica na casca deste grão, o que ocasiona uma menor digestibilidade. Outro fator que tem influencia nesse resultado é a menor quantidade de energia presente nesta dieta, que afeta negativamente o ganho de peso dos animais. Notter et al. (1991), relataram que, para obtenção de ganhos que compensem economicamente a prática de confinamento, a dieta deve ter alto teor de energia e níveis adequados de proteína.

Em relação à conversão alimentar (CA) observa-se que os piores valores foram obtidos para os cordeiros do tratamento que utilizou arroz com casca quando comparado com os cordeiros do tratamento do grão de milho e da aveia preta, sendo essa uma consequência do menor ganho de peso verificado nos animais desse tratamento. O valor médio para CA, independente do tratamento, obtido no presente estudo encontra-se próximo aquele obtido por Carvalho et al. (2005), os quais avaliaram o desempenho e as características de carcaça de cordeiros da raça Suffolk, castrados e não castrados, terminados em confinamento e observado valor médio de 4,14:1.

O ganho de peso diário influenciou diretamente no número de dias que os cordeiros levaram para atingir o peso de abate pré-estabelecido em 32 kg de peso vivo, sendo que os cordeiros do tratamento com uso de arroz com casca foram aqueles que levaram mais tempo para serem abatidos.

Ao analisarmos os valores relacionados ao escore de condição corpora (ECC) destaca-se o tratamento de milho que diferiu dos demais tratamentos proporcionando maior grau de acabamento destes animais. Desta forma a gordura de cobertura depositada pelos animais que receberam o tratamento de milho atua positivamente protegendo a carcaça da desidratação durante o resfriamento, evitando o escurecimento da parte externa dos músculos, além de não prejudicar a qualidade da carne (OSÓRIO, 1998).

Portanto, as dietas de alto grão estudadas são uma alternativa eficiente na terminação de cordeiros confinados. Destacou-se neste trabalho a dieta a base de milho, pois ela apresentou além de um maior ganho de peso, maior escore de condição corporal, determinando assim melhor grau de acabamento na carcaça destes animais.

Referências Bibliográficas

BORGES, C. A. A. et al. Substituição de milho grão inteiro por aveia preta grão no desempenho de cordeiros confinados recebendo dietas com alto grão. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, suplemento 1, p. 2011-2020, 2011.

CARVALHO, S. et al. Desempenho e características quantitativas da carcaça de cordeiros da raça suffolk, castrados e não castrados, terminados em confinamento. Revista Brasileira Agrociência, v.11, n. 1, p. 79-84, jan-mar, 2005.

KROLOW, A. C. R. Qualidade do Alimento x Perspectiva de consumo da carne ovina e caprina. 2005. Disponível em: http://www.spmv.org.br/conpavet2004/palestras%20- %20resumos/palestra_Ana%20Cristina%20Krolov.doc. Acessado em novembro de 2008.

MEDEIROS, G.R. et al. Efeito dos níveis de concentrado sobre as características de carcaça de ovinos Morada Nova em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.4, p.718-727, 2009.

NOTTER, D.R.; KELLY, R.F. e McCLAUGHERTY, F.S. Effects of ewe breed and management system on efficiency of lamb production. II. Lamb growth, survival and carcass characteristics. Journal of Animal Science, v.69, p.22-33, 1991.

OSÓRIO, J.C.S., et al. Métodos para avaliação da produção de carne ovina: in vivo, na carcaça e na carne. Editora e Gráfica Universitária – UFPEL. Pelotas, RS. 1998. 107 páginas

Fonte: Farmpoint

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