A pressão exercida pelas diversas opções de agricultura, assim como, pelas alternativas especulativas e financeiras de investimento sobre a pecuária tem conduzido e orquestrado um processo irreversível de intensificação da atividade que, por sua vez, caracteriza-se pela absorção continua e crescente de tecnologias objetivando a manutenção da produtividade em níveis suficientes para trazer resultados econômicos satisfatórios.
A consequência primária do processo de intensificação é o encurtamento do ciclo produtivo, o qual se apresenta, atualmente, não como uma opção ou uma alternativa, mas como uma necessidade, como um pré-requisito para uma pecuária competitiva.
No que diz respeito à produção de carne ovina, o ciclo produtivo envolve as fases de cria (da concepção à desmama) e de terminação (da desmama ao abate), de forma que a manipulação biológica dessas duas etapas permita a obtenção de um ciclo mais curto, cujo efeito imediato é o fornecimento de animais mais jovens ou mais precoces, produzidos em um intervalo de tempo menor, sendo esse fator a base a partir da qual se obtém os demais benefícios decorrentes do processo.
A Figura 1 ilustra a curva de crescimento de ovinos, onde é possível identificar uma fase de autoaceleração – que se inicia ao nascimento e se encerra à puberdade – na qual ocorre o período mais intensivo do crescimento muscular associado a um crescimento moderado do tecido adiposo suficiente para possibilitar acabamento de carcaça satisfatório.
Consequentemente, a exploração do potencial dos cordeiros nessa fase é altamente vantajosa pela ótima conversão dos nutrientes em tecido muscular e adiposo e também como consequência das menores exigências nutricionais para manutenção.
Portanto, o encurtamento do ciclo produtivo envolve a manipulação da curva de crescimento dos animais, a fim de se explorar ao máximo a fase onde os mesmos apresentam a melhor eficiência biológica e possibilitam os melhores resultados econômicos.
A Tabela 1 mostra as médias de algumas variáveis ao longo do crescimento e durante a terminação em confinamento de cordeiros ½ Dorper×Santa Inês desmamados aos 60 dias de idade, submetidos a um modelo de produção precoce e abatidos quando alcançaram 3 mm de espessura de gordura subcutânea monitorada por ultrassonografia.
Pode-se observar elevado ganho de peso e ótima conversão alimentar até os 42 dias do confinamento, refletindo um período de crescimento acelerado e de alta eficiência na conversão dos alimentos em tecido muscular.
No entanto, a partir do período 4 do confinamento, a deposição de gordura subcutânea começou a se intensificar, o consumo de alimentos aumentou e o ganho de peso desacelerou, e a eficiência biológica – representada pela conversão alimentar – piorou significativamente, alcançando o valor de 6,44 ao final da terminação, ressaltando a relação inversa existente entre acúmulo de tecido adiposo e eficiência produtiva.
Neste sentido, o índice relativo de eficiência produtiva (IRE) apresentou uma redução de quase 56% em relação ao período inicial no ponto em que o peso corporal atingiu 43,7 kg e a gordura subcutânea alcançou os 3 mm, e o custo do ganho de peso – considerando apenas a alimentação com base em uma ração completa 20:80 a R$ 0,86 kg MS-1 – se elevou em mais de 140% comparado ao valor inicial de R$ 2,29, indicando que quanto mais tempo durar a fase de terminação maior será o custo do quilo de peso produzido.
A partir dos resultados apresentados, a Tabela 1 demonstra que quanto mais pesado ou mais velho for o animal e mais longo for o período até que o mesmo apresente a composição corporal apropriada ao abate (acabamento de 3 mm), maiores serão os custos de produção em decorrência de um aumento proporcional das exigências nutricionais de manutenção e de uma queda perpétua na conversão alimentar ao longo do processo de crescimento.
Assim, cada dia a menos, do nascimento ao abate, representa benefícios nos resultados econômicos da empresa pecuária, de forma que o encurtamento do ciclo produtivo:
a) dinamiza a comercialização da safra de cordeiros, adiantando receitas, acelerando o giro de capital e tornando mais rápido o retorno sobre o capital investido ou imobilizado na atividade;
b) diminui o tempo ou o período da fase de terminação, liberando ou destinando áreas de pastagens para outras categorias, como ovelhas e animais em recria, podendo aumentar a escala de produção da propriedade;
c) reduz os custos de produção em função de operar com um ciclo mais precoce que, por sua vez, apresenta melhor eficiência biológica e menor demanda por recursos alimentares ao longo do tempo.
Bibliografia de referência
OWENS, F.N.; DUBESKI, P.; HANSON, C.F. Factors that alter the growth and development of ruminants. Journal of Animal Science, v.71, p.3138-3150, 1993.
SOUZA, D.A. Desempenho bioeconômico e características de carcaça de cordeiros mestiços Dorper-Santa Inês e Dorper-Somalis Brasileiro submetidos a um modelo de produção precoce. 2011. 102f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
WILLIAMS, C.B.; BENNETT, G.L.; KEELE, J.W. Simulated influence of postweaning production system on performance of different biological types of cattle. III. Biological efficiency. Journal of Animal Science, v.73, p.686-698, 1995.
Fonte:Farmpoint