O manejo que vem da Unimar

Como qualquer pecuária de ciclo curto, os procedimentos parecem ser minuciosos, mas garantem o sucesso da atividade, com certeza.

Qualquer segmento do agronegócio deve ser bem planejado, com estabelecimento de metas, desta maneira resultando num futuro promissor, garantindo boa produtividade. Consequentemente, maior rentabilidade, sustentabilidade da atividade e a boa gestão do empreendimento é chave do sucesso para obter boas perspectivas na ovinocultura.

O interesse do projeto da Cabanha Unimar em investir na ovinocultura foi devido à elevada demanda regional e nacional pela carne ovina, entre outros produtos, além de colaborar para aulas práticas dos acadêmicos, bem como in­cen­tivar as pesquisas tanto para a graduação quanto para a pós-graduação, objetivando formar novos empreendedores (alunos da Universidade) no segmento ovinícola, sendo a atividade interessante em pequenas e médias propriedades.

A raça criada desde o início foi a Suf­­­folk (há 16 anos), por que é a mais usada nos principais países produtores de carne ovina, representando aproximadamente 70% das raças usadas para terminação a nível internacional, além de estar adaptada a nossas condições climáticas.

A partir de 2007 foi iniciado um trabalho com animais elite que, hoje, possui 300 animais, com objetivo de comercializar reprodutores para os criadores de Marília e região, co­laborando com a melhoria da genética do rebanho regional. Pratica, inclusive, troca de re­prod­utores por cordeiros para abate, em kg de peso vivo. No ano de 2.009 foi rea­lizado investimento de sêmen neo­zelandês, para incrementar ainda mais o melhoramento genético.

Além do Suffolk elite (co­mo termi­nador), a Universidade conta com 1.700 animais comerciais usando reprodu­tores puros da raça High­lan­der (raça Neozelan­desa sintética – linhagem materna), em parceria com a Rissington Brasil e Grupo Marfrig, em fase de cruzamento absorvente, com o objetivo de aumentar a prolificidade do rebanho (partos geme­lares), além da produção de leite, aliado a boa nutrição pa­ra conseguir bons resultados.

Constantemente estagiários da Unimar têm colaborado com o manejo ge­ral do rebanho, num Programa de Práticas de Manejo, além do desenvolvimento de pesquisas das mais variadas ­áreas da ovinocultura. Os técnicos envolvidos são os que fazem parte do corpo docente da Unimar, além das parcerias com várias empresas, como o SEBRAE-SP, IBS (Instituto Biositêmico, Real H (Saúde e Nutrição Animal), CRV – Lagoa, Top in Life, ASPACO (Associação Paulista dos Criadores de Ovinos), ABBC (Associação Brasil Border Collie), APPAS (Associação Paulista de Pasto­reio), Special Dog, entre outras.

A meta principal do projeto é a produção de carne, mas não desprezando a lã, pois futuramente a intenção é de, juntamente com os órgãos SEBRAE, SENAR e órgãos municipais, iniciar cursos de artesanato, com a participação de entidades municipais (asilos, casa do pequeno cidadão, etc.) e criadores de Marília e região, como também curtimento de peles, entre outras. Desta ma­neira, a Cabanha Unimar estará incentivando o fomento da ovinocultura regional, com os criadores agregando valor no seu produto final.

Foi inaugurado em outubro de 2008 um confinamento com capacidade para 1.000 cordeiros por ciclo, ou seja, totali­zando 4.000 cordeiros anualmente, com possibilidade de ampliação, caso haja necessidade. O mesmo está sendo usado como um confinamento coletivo, atendendo ovinocultores de Marília e região, os quais simplesmente pagam uma diária pelo seu lote. Isso irá contribuir com a padronização da qualidade da carcaça e carne oferecidas ao mercado comprador e consumidor, inclusive melhorando a logística de distribuição. O Grupo Marfrig é um dos parceiros do confi­na­men­to, que geralmente mantém 500 cordeiros alojados em parceria.

A partir de 2008 foi adotado o uso de cães de pastoreio para facilitar o ma­nejo com os ovinos, pois em países com tradição na ovinocultura é constante a adoção desta prática. De modo que um pastor, com 2 a 4 cães consegue conduzir um rebanho de aproximadamente 3.000 ovinos. O rebanho é pastoreado em algumas áreas que antes eram ro­çadas mecanicamente, com tela elétrica e bebedouro móvel, tendo eletrifi­cador solar como fonte de energia.

Todo rebanho é manejado num curral modelo Australiano (antiestresse) recém-inaugurado, já usando os cães de pastoreio dentro do mesmo. A Unimar construiu um centro de treinamento de cães de pastoreio e, à medida que completa as vagas, são realizados Cursos de Adestramento de cães de pastoreio, com aulas práticas pelo funcionário Jo­suel Célio Gomes (Zuza) e a teórica pelo Prof. Cledson A. Garcia.

Também está em fase de montagem uma estrutura de Sítio Modelo, próximo da Universidade (6 km), com área de 13 ha, onde funciona um pastejo rotacio­na­do, explorando o máximo da produtividade por área, que está aberto para visitas técnicas e dia de campo periodicamente pelos pequenos e médios criadores, demonstrando a possibilidade da rentabilidade numa área menor.

Atualmente o rebanho totaliza 2.000 animais que, a partir de março, iniciarão as pa­ri­ções, sendo a meta ampliar o rebanho para 3.000 ovelhas comerciais e 300 registradas (Suf­folk elite).

O objetivo do projeto é fomentar a ovinocultura no município de Marília e região, dando suporte tecnológico aos ovinocultores e ­fu­turos criadores, pois esta é a área de ex­tensão rural da Universidade; além de formar profissionais habilitados para ­atuarem na área de ovinos, seja na pesquisa ou ensino, inclusive com a possibilidade de serem novos cria­dores e empreendedores do segmento.

1 – Manejo dos reprodutores

Antes do início da estação de monta todos os reprodutores são cas­quea­dos, mantendo boa saúde, além de serem passados em pedilúvio. Também é muito importante a realização da revisão geral 60 dias antes da monta. Caso os animais estejam com baixa condição cor­poral realiza-se uma suplementação com ração concentrada de 1 a 2% do peso vivo. Outra prática primordial é exame andrológico, para verificar a qualidade do sêmen dos mesmos, além do teste da libido (capacidade de monta). Essa prática é realizada em todos os reprodu­to­res, sejam eles em uso interno da Caba­nha ou para a venda externa.

A cada 28 dias realiza-se a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) e Famacha (mucosa da conjuntiva – olhos) em 5 a 10% de cada categoria animal.

2 – Manejo das ovelhas

Nas ovelhas que entrarão na estação é realizado o flush­ing (aumento do nível energético da dieta), sendo iniciada 30 dias antes da estação de monta (pas­to bom ou suplementação com ração concentrada). Nessa mesma época realiza-se o cascarreio, que é a tosa da lã na região da vulva e ânus, proporcionando melhor hi­giene no momento do acasalamento, consequentemente evitando contaminação nos reprodutores ou matrizes.

O casqueamento deve ser feito em todas as ovelhas, geralmente no início e final das águas (duas vezes/ano), dependendo da necessidade. Em seguida deve passar as mesmas no pedilúvio.

Durante a estação de monta anotam-se as ovelhas que estão marcadas com a tinta na lã, pois a tinta vem do ex­­terno dos machos para marcar as ovelhas montadas. Inicia-se esta marcação de tinta com a cor amarela (pó xadrez + óleo vegetal, até ficar pastosa). A cada 14 dias muda-se a cor, na seguinte sequência: verde, vermelha e azul, possibilitando saber aquelas que estão retornando cio, ou seja, as com menor eficiência reprodutiva.

As ovelhas no 1/3 final de gestação (50 dias antes do parto) devem ser suplementadas com 0,5 a 1% do peso vivo, com ração concentrada, dependendo da qualidade do pasto, pois nessa fase aumenta o crescimento do feto da ordem de 75 a 80%, além de outras características benéficas. Realiza-se novamente o cascarreio 30 dias antes da parição (tosa higiênica da vulva, ânus e úbere), sendo esta uma higienização para o nascimento do cordeiro, além de facilitar a ingestão do co­lostro. Após o parto, faz-se a desobs­trução da teta (verificar a saída do leite).

Em seguida, procede-se a limpeza e aplica-se repelente na vulva das ovelhas recém-paridas, para evitar miíases (bicheira), retirando também todos os restos placentários do pasto,os quais são depositados numa fossa antissép­tica, para evitar a atração de moscas ou predadores (urubus, gaviões, etc.).

3 – Manejo dos cordeiros

Após o nascimento, observar se o cordeiro mamou o colostro, pois é de extrema importância para o recém-nascido. A seguir, registrar o peso ao nascimento, cortar o umbigo (tesoura desinfetada) e curar com iodo a 5% ou produto similar (imersão por 50 segundos). A numeração das crias com brincos, tatua­gem, etc. deve ser feito nessa data, possibilitando um bom controle zootéc­ni­co do rebanho.

As vacinas são realizadas a partir de 20 a 30 dias, sendo as seguintes as mais importantes: clostridioses, ectima contagioso, pasteurelose, conjuntivite e podridão do casco (consultar um responsável técnico). Iniciar, o quanto antes, o fornecimento de ração no cocho privativo (creep feeding), separando um comedouro somente para os cordeiros, em local inacessível para ovelhas, do nascimento ao desmame, objetivando aumentar o peso dessa ca­tegoria, devendo ser registrado para controle. Em seguida, os machos são encaminhados para o confinamento para terminação e as fêmeas permanecem em pastejo, recebendo também suple­mentação com ração concentrada.

4 – Manejo do confinamento

Nessa fase, a ração deve ser for­necida pelo menos três vezes ao dia e nunca mudar o horário de fornecimento, podendo ser às 8:00 h; 13:00 h e 17:00 h, como opcional. Sempre retirar as sobras do cocho, objetivando reduzir rejeição e consequentemente resultando em menor ganho de peso dos cordeiros.

Toda semana jogar cal virgem para desinfecção da cama e, quando necessário ou após a retirada de cada lote, fazer a limpeza geral das instalações. Se possível, realizar um vazio sanitário de 10 dias aproximadamente.

A luz deve permanecer acesa até 22:00 h, dependendo da época do ano, ou seja, 2/3 do dia com luz (luz natural + artificial = 16 horas). Quando verificar algum cordeiro com enfermidade, retirar do lote e encaminhar para a enfermaria, ou tratar no próprio local (caso mais simples), evitando contaminação dos demais animais do lote. Os bebedouros devem ser limpos quando necessário (geralmente uma vez por semana), evitando quaisquer contaminações. O cocho de sal mineral deve sempre estar abastecido, porém evitando excesso.

5 – Curativo dos ferimentos (enfermaria)

Todos os lotes devem ser revisados no mínimo a cada 2 dias, devendo observar atentamente todos os animais, pois qualquer comportamento diferente pode ser alguma enfermidade ou fe­ri­mento.

Quando detectada alguma enfermidade (pododermatite, miíases, conjun­ti­vite avançada, entre outras), encaminhar o animal imediatamente para o piquete ou baia enfermidade, evitando assim a contaminação dos demais do lote. Após en­caminhamento para esse piquete, abrir uma ficha individual dos mesmos, para acompanhamento da evolução do seu tratamento.

Considerações finais

A ovinocultura possui um mercado extremamente promissor, sendo boa alternativa para os diferentes produtores rurais, seja para o pequeno, médio e grande criador, pois para cada qual existem as tecnologias pertinentes, podendo ser mais uma opção de renda para os mesmos. Para ter sucesso na criação, entretanto, deverá se basear num projeto bem alicerçado e elaborado por um bom técnico, para que o novo empresáraio ingresse, cresça e permaneça na atividade.

Fonte: Revista O Berro

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