Ovinos – A escolha de uma raça

*Autora do artigo: Mariangela Abreu Lima, Engenheira de Alimentos e Produtora Rural – Sítio São João das 03 Ovelhas – MG.

De longa data as ovelhas exercem um fascínio sobre mim e a minha admiração por estes animais é antiga. Da decisão de iniciar um criatório e a escolha da raça o tempo foi curto. A finalidade do criatório define a raça. Perguntas devem ser feitas antes de se iniciar um criatório:

-Você quer ovelhas em suas pastagens para criar uma visão bucólica?
-Você quer os ovinos para engordá-los, objetivando consumo próprio?
-Você quer os ovinos para engordá-los para fins comerciais?
-Você quer fazer melhoramento genético?
-Você quer usar a lã para fiação ou tricô?
-Você quer fazer queijo de leite de ovelha?
-Você quer tê-los como animais de estimação?

Há muitas opções disponíveis para escolher uma raça e o importante é ter claro o seu objetivo final, refletir sobre as implicações futuras, identificar possíveis dificuldades e conhecer as facilidades, pois tudo isto fará com que a seleção da raça adequada ao seu propósito seja mais fácil. Os ovinos, em geral, são autossuficientes em muitos aspectos, mas qualquer raça que você escolher terá que ser estudada. Além disso, deve-se aprender como cuidar de seu rebanho, conhecer as peculiaridades da raça escolhida, alimentá-los bem, lidar com os problemas que surgem e comercializar os produtos finais.

Como minha motivação é leiteira e estou numa região serrana, a opção foi pela raça East-Frisean, que é de origem alemã, região da Frísia, caracterizada pela produção excepcionalmente elevada de leite, assim como longas lactações. Os pontos fortes da raça se refletem em atributos como alta fertilidade, facilidade de ordenha e aptidões maternais. É uma raça muito antiga, havendo referência da mesma desde 1530.

O tipo de pelagem que os ovinos têm (lã ou pelos) é a forma mais comum de categorizá-los. Em todos crescem lã e/ou pelos e a predominância de uma característica sobre o outra classifica as raças. Animais East-Frisean têm uma apreciável produção de lã.

A cabeça é totalmente livre de lã e coberta de pelos finos e brancos. As orelhas também são desprovidas de lã e cobertas de finos pelos, além disso, eles possuem a pele rosada. A lã cobre os membros dianteiros até o cotovelo e os membros posteriores até os jarretes. A parte inferior dos membros é coberta de pelos.

A diferenciação de raças também pode ser feita pela cor do rosto. De acordo com Philip Hasheider, as raças de rosto claro, branco, geralmente têm melhores características maternas e são produtoras de lã. Embora a pele da East-Frisean seja de coloração branco rosada, admite-se manchas no focinho, faces e orelhas. O celo nasal, os lábios e os bordos das pálpebras são rosados, livres de pigmentação escura (preta, marrom). Devido a pele branco rosada, a raça East-Frisean sofre com o sol, podendo desenvolver problemas de pele.

Os olhos são grandes, bem separados, as pupilas são em forma de fenda horizontal, eles têm excelente visão periférica, angulo de visão variando entre 270 – 320 graus e isto permite que eles vejam por trás sem virar a cabeça, um mecanismo de proteção. Por outro lado, têm pouca percepção de profundidade, característica a se levar em conta ao se trabalhar com eles nas pastagens.

Outra forma de categorizar ovinos é por suas características especiais, tais como tipo de cauda e tamanho da ninhada. A raça East-Frisean têm cauda desprovida de lã e pelos. São animais de alta prolificidade e partos gemelares são normais, o que é plenamente desejável. As ovelhas possuem duas tetas, implantadas lateralmente, bem desenvolvidas e orientadas para baixo.

Animais East-Frisean são ovinos fortes e de bom tamanho, angulosos e longilíneos. Os machos atingem 80 a 90 cm de altura e pesam de 90 a 120 kg. As fêmeas pesam de 70 a 75 kg e apresentam um bom apetite. Dependendo da raça, sexo e genética, os ovinos podem ter ou não chifres. East-Frisean não tem chifres, o que é uma característica interessante, pois tornam o manejo mais fácil e a convivência mais segura.

No quesito produção, embora seja um ovino com muita lã, principalmente os machos, a lã não é considerada a sua principal aptidão. O grande atributo em termos de produtividade é o leite: a produção média em 220 dias de lactação é de 380 a 450 litros, podendo as fêmeas selecionadas, que têm alimentação balanceada, chegar a 520 litros. A produtividade do leite começa na raça, na sua genética e no manejo eficiente e a qualidade é em grande parte determinada pela alimentação equilibrada, tanto na composição como na quantidade, padrões sanitários e contextos geográficos.

A precocidade dos East-Frisean e respectiva velocidade de crescimento fazem destes ovinos animais de rápida evolução, pois eles ganham em media 350 gramas diárias do nascimento ao desmame. Os cordeiros rapidamente adaptam-se ao seu ambiente e aprendem a comer grama muito cedo. Gostam de viver em grupo, se juntam na presença de um estranho, animal ou pessoa. Quando um deles é separado do resto do rebanho, ele fica bem agitado até que seja reintegrado novamente. Esse instinto de união cria sua melhor defesa contra predadores. Preferem pastagens mais baixas, uma vez que uma vegetação alta dificulta a visualização entre eles.

A fêmea East-Frisean é um animal dócil e o macho territorialista. Um estudo australiano sugere que ovinos possuem memória espacial e são capazes de aprender e a melhorar o seu desempenho. Observando meus animais, arrisco a dizer que isto faz sentido. Animais East-Frisean se distinguem primariamente pela produção de leite, beleza, sensibilidade, comportamento, estilo e nobreza.

Dentre os lácteos derivados do leite ovino, o queijo é um produto diferenciado e singular, que se insere em um mercado de produtos finos de apreciação mundialmente reconhecido e que tem como origem a tradição das particularidades do produto. No Brasil ainda não há produção em escala destes queijos especiais, e a produção nacional sofre concorrência de queijos especiais procedentes da Europa, que detém reputação e imagem consagrada.

A reputação dos atributos do queijo de leite de ovelha junto ao consumidor é incipiente. A identificação e valorização das características organolépticas e nutricionais destes queijos, como elementos estruturadores de um mercado de qualidade diferenciado e singular têm sido negligenciadas. O mercado global para queijo de ovelha é potencial. De acordo com publicação do Agricultural Education (FFA-USA/2009), o queijo de ovelha abrange cerca de 1,5% do mundo, incluindo alguns dos mais famosos, como Roquefort (francês), Serra da Estrela (português) e Manchego (espanhol).

O mercado para queijo de ovelha no Brasil é real, pois ele é um alimento definitivamente incorporado à culinária dos brasileiros. Comparado a outros países, o consumo de queijo no Brasil ainda é tímido. Quase 50% do consumo ainda é de queijo fresco, mussarela e prato para uso culinário, porém o consumo de queijos finos para uso gourmet vem aumentando significativamente. O fator renda contribui para este avanço já que, no Brasil há uma relação direta no crescimento de produtos lácteos e o incremento na renda, observado a partir do Plano Real. Além disso, o mercado gourmet está em franca expansão.

A raça East-Frisean no Brasil tem tudo para crescer. O número de criatórios é muito limitado, escasso e se pode contar nos dedos. É muita satisfação trabalhar com estes animais inteligentes e vigorosos.

Fonte: Farmpoint

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