Nos sistemas de pecuária que utilizam o pastejo rotacionado é comum surgir a dúvida de quantos dias os animais ficam em cada piquete. Para explicar melhor os efeitos dos números de dias em que os animais pastejam cada piquete (definido como sendo o período de ocupação) é importante entendermos algumas das consequências desse período para a planta e para o animal.
Em primeiro lugar é preciso ter em mente que o período de ocupação está relacionado à quantidade de forragem disponível e ao número de animais para consumi-la. Temos que encontrar o ponto de equilíbrio do suprimento e a demanda de forragem. No entanto, esse tempo em que os animais permanecem em cada piquete trará consequências tanto para as plantas quanto para os animais.
Quando pensamos no capim, o período de ocupação irá influenciar na velocidade e na maneira que se dará a rebrota do pasto, isso porque períodos de ocupação longos aumentam a possibilidade dos animais visitarem (consumirem) partes de uma mesma planta várias vezes. Essa situação faz com que após cada visita, a planta retome o processo de crescimento várias vezes e em alguns casos consuma reservas de energia armazenadas na base da planta para refazer material (folha e colmo) que já estavam iniciando crescimento.
Outro fator é que aumentam as chances de ocorrer decapitação do meristema apical (principal tecido responsável pelo crescimento da planta) e com isso o crescimento passa a se dar pelos meristemas laterais e basais, levando mais tempo para atingir uma altura. A decapitação dos meristemas apicais só é bem vinda em sistemas que utilizam capins de porte alto como alguns do gênero Panicum. Ela pode ser utilizada como estratégia para não perder o controle da altura do capim, fazendo a decapitação do meristema apical dessas plantas no início do período de chuvas para induzir a brotação de meristemas laterais. Essa ação impede o crescimento em altura das plantas presentes no pasto no fim do inverno.
Quando períodos de ocupação curtos são utilizados, a rebrotação se dá com maior velocidade e de forma mais eficiente, isso porque as folhas que iniciaram ou retomaram seu crescimento não sofrerão novos cortes no início desse processo e poderão alcançar seu potencial fotossintético mais rápido, auxiliando no crescimento da planta e tendo mais tempo para produção de matéria seca. Dessa forma, levando em consideração a planta, não é recomendado ter períodos de ocupação maiores do que 3 dias.
Pensando no animal e no seu comportamento durante o pastejo, eles irão consumir primeiro as partes da plantas com melhor valor nutritivo (folhas novas) dispostas na parte superior. Posteriormente irão passar a consumir colmos e folhas mais velhas que estão na camada inferior da planta. Assim quando os animais em sistemas com períodos de ocupação curtos começam a consumir material de qualidade inferior ocorre a mudança de piquete e esses animais voltam a consumir folhas novas. No entanto, para que isso ocorra, é preciso que haja abundância na oferta de forragem (kg matéria seca/animal dia) no piquete e que não gere competição por comida ao ponto de o animal ter que consumir o que tiver pela frente sem ter a possibilidade de exercer preferência. Isso explica melhor o ponto abordado na matéria dos “Fatores a serem observados no pastejo rotacionado” em que foi citado o fato de que quanto menor o período de ocupação melhor será a qualidade de forragem consumida.
O efeito dessa estratégia de manejo é bastante visível em animais que produzem leite uma vez que esse tipo de estratégia pode ser responsável pelo aumento da qualidade e quantidade produzida. No geral, sistemas que adotam essa estratégia de manejo contam com lotes de repasse para atingir a meta de altura de resíduo dos piquetes. Esse tipo de estratégia irá beneficiar o desempenho individual de cada animal. É comum em sistemas altamente intensificados de produção de leite períodos de ocupação de um dia ou menos (60 ou 70% do piquete é pastejado de noite e 40 ou 30% é pastejado durante o dia). Para produção de bovinos de corte ou ovinos o efeito no consumo é parecido, no entanto, o efeito no desempenho só é visível em prazos maiores, e por isso é comum períodos considerados curtos de 1 ou 2 dias.
Como dica, procurem não ter períodos de ocupação maiores do que 3 dias tanto na caprinocultura de corte como na ovinocultura de corte. Procurem definir se o objetivo é o desempenho individual do animal ou o desempenho por área, pois isso ajudará bastante na decisão de quantos dias os animais irão permanecer em cada piquete. Lembre-se que o uso da lotação correta e o período de descanso dos piquetes são fundamentais para que a escolha do período de ocupação seja correto (esse assunto será abordados com mais detalhes nos próximos artigos).
O autor:
Murilo Saraiva Guimarães Piracicaba – São Paulo
Consultor da Campo – S/A Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ – USP Mestre em Ciência Animal e Pastagem pela ESALQ- USP
Fonte: Farmpoint