O Brasil se orgulha do título de “celeiro do mundo”, sendo responsável por grande parte do alimento produzido para as pessoas de diversos continentes. Porém, como disse Ben Parker, tio do personagem Homem-Aranha, em uma das frases mais famosas do cinema: “grandes poderes, trazem grandes responsabilidades”.
O agronegócio brasileiro atrai a atenção do mundo, e até por isso, tem o dever de se superar e aumentar a eficiência de produção, garantindo que vai conseguir cumprir seu “compromisso” de ajudar no sustento da população do planeta.
Para se ter uma ideia do que isto significa, basta analisar alguns números. Segundo levantamentos do IBGE, o Brasil tem um rebanho bovino com mais de 205 milhões de cabeças, o segundo maior do planeta, atrás apenas da Índia – onde o boi é sagrado e, portanto, não é abatido. Também somos o segundo maior exportador desta proteína, com 1,32 milhão de toneladas, logo atrás da Austrália, com 1,35 milhão de toneladas.
Mantendo mais uma vez nossa posição de destaque, somos o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, ultrapassando a marca de 9 milhões de toneladas, atrás dos Estados Unidos, que com um rebanho de quase 91 milhões de cabeças atingiu uma produção superior a 12 milhões de toneladas.
Olhando assim, parece que tem alguma informação errada. Mas é isso mesmo. Nós temos um rebanho bovino de 205 milhões de cabeças e uma produção de 9 milhões de toneladas. Os EUA têm um rebanho bovino de 91 milhões de cabeças e uma produção de 12 milhões de toneladas. Ou seja, nosso rebanho bovino é 225% maior, e nossa produção de carne bovina 25% menor !
Isso quer dizer, que precisamos aumentar nossa eficiência produtiva.
Produção extensiva é alternativa para viabilizar a pecuária ovina
ovinocultura tem a seu favor um grande trunfo: o ciclo curto de produção, pois em menos de um ano o cordeiro está pronto – do nascimento ao abate. Essa característica é importante quando pensamos em criação consorciada, pois em função deste ciclo curto o produtor consegue um giro rápido de capital, diminuindo a quantidade necessária de “dinheiro em caixa” para sustentar o projeto, além de aumentar o lucro da propriedade como um todo.
Um dos grandes exemplos de sucesso na produção de carne ovina é o Uruguai, apesar do rebanho no país vizinho girar abaixo dos 10 milhões de cabeças, enquanto que o Brasil tem um rebanho acima de 17 milhões.
A principal diferença é cultural. Os produtores uruguaios tratam a ovinocultura como pecuária extensiva, onde os animais são criados basicamente a pasto e têm a obrigação de deixar lucro para a fazenda. No Brasil, criação de ovinos é, geralmente, o “segundo negócio” de empresários que investem no setor rural, e ainda tem o estigma de “criação de barracão”.
As dimensões continentais do Brasil também são um fator a ser considerado. A criação de ovinos está muito concentrada em duas regiões distintas: nordeste e sul. Estas regiões têm clima, pastagem, cultura e raças muito diferentes. Por isso é difícil traçar um perfil de qual seria a maneira correta de se produzir carne ovina no Brasil. É preciso respeitar as características dos produtores, do meio-ambiente e dos próprios animais. Mas os bons exemplos devem ser seguidos, mesmo vindos de fora, e ainda que sejam necessárias algumas adaptações.
A região sul, a exemplo do Uruguai, tinha a ovinocultura voltada basicamente para a produção de lã, e isso vem mudando. Segundo Robson Leite, diretor da Savana Alimentos, empresa que é referência na comercialização de carne ovina do Brasil: “a mudança do rebanho de lã para raças mais carniceiras é um fato”.
O objetivo é aumentar a produção de carne. Para isso, um programa do governo gaúcho até proíbe o abate de fêmeas, visando aumentar o rebanho na região. “Outra característica importante da ovinocultura sulista é a criação de animais a pasto. Para os produtores, pastagem é lavoura, que deve ser bem cuidada para garantir o fornecimento de alimento com baixo custo ao rebanho. Pasto não é o mato que nasce ali e o animal come”, comenta o empresário.
Robson Leite conta que é exatamente assim que funciona a produção de carne de cordeiro no Uruguai. “São áreas grandes, com rebanhos criados em sistema super-extensivo, sem comida no coxo. Lá, quando se fala em confinamento, estamos falando em simplesmente diminuir a área de pastagem, para que o animal ande menos. Nada de ração, nada de baias nem galpões para terminação de carcaça”, explica Robson.
Não dá para negar que o clima e o meio-ambiente favorecem esse tipo de criação por lá, já que a pastagem é formada por trevo branco, aveia e azevém. Esse tipo de pasto não é viável, por exemplo, para o Nordeste e o Centro-Oeste brasileiros, mas é possível adaptar o sistema às variedades de gramíneas que se desenvolvem nestas regiões.
Uruguai: grandes rebanhos e produção em larga escala
Na busca de conhecimento e experiências que podem auxiliar no dia-a-dia de sua empresa de distribuição de carne ovina, Robson Leite tem viajado pelo mundo, visitando propriedades e conhecendo sistemas de produção. “Recentemente estive no Uruguai, na região de Salto, norte do país, distante 150 Km da fronteira brasileira, onde com apenas 5 criadores tínhamos mais de 250 mil cabeças de ovinos. Se considerarmos um raio de 250 Km, estamos falando de 4,6 milhões de ovelhas”, salienta o empresário.
Robson conta ainda, que para os padrões dos produtores uruguaios, um rebanho comercial de ovinos deve partir de 10 mil cabeças. “Pra eles, é inconcebível imaginar um rebanho menor que isso”, reforça.
No Brasil, faltam exemplos de grandes projetos, apesar de que muitos criadores estão se mobilizando para iniciar a produção de carne em larga escala. Mesmo assim, é comum ouvir falar em projetos pensados com números que giram em torno de 1.000… até 4 ou 5 mil matrizes. Nada nos moldes do Uruguai.
Para Robson, a conta é simples: “imagine um rebanho ovino de 1.000 matrizes. No comparativo com o boi, estamos falando em 100 cabeças, já que a relação é de 10 ovelhas para cada vaca. É muito pouco ! Um pecuarista com uma centena de bois não produz nada”, compara Leite. Outro fator que chama atenção na ovinocultura uruguaia é busca pelo baixo custo. “O investimento em infraestrutura é pequeno, já que não existem galpões ou baias. O fornecimento de ração é zero e as pastagens são extensas, ou seja, sem um monte de cercas para dividir os piquetes. Na visão dos produtores de lá, isso tudo é custo”, afirma Robson, lembrando ainda que a criação é consorciada de maneira direta. “Não tem essa de sai o boi e entra a ovelha. É uma integração total, boi, cavalo e ovelha no mesmo pasto, dividindo o mesmo espaço e manejo”, afirma.
Fonte Revista Cabra e Ovelha