O tema produção de silagem de qualidade não é apenas o saber conduzir bem a lavoura no campo, realizar a colheita no momento adequado, ser eficiente em compactação, prezar por fermentação de qualidade e esperar o momento para abertura do silo e posterior fornecimento aos animais. Além desses fatores, a abertura do silo é considerada como “um grande estresse” para a silagem, pois a mesma que estava em ambiente anaeróbio e muito estável, agora na abertura é exposta ao ar, onde está presente o oxigênio. Essa é a molécula que permite que ocorra oxidação de nutrientes que, por definição, é a transformação de um nutriente em água, gás carbônico e calor, processo também conhecido por deterioração aeróbia.
Sabendo que a exposição da silagem ao oxigênio é um problema a ser enfrentado, cabe ao produtor lançar mão de técnicas que possam reduzir essa deterioração aeróbia para que seu rebanho receba diariamente silagem com grau de oxidação reduzido, ou em outras palavras, de maior qualidade.
Um manejo simples que pode auxiliar nesse processo é o avanço diário da fatia retirada do silo. Calcular qual é este avanço é de fundamental importância para interpretação da qualidade da silagem. Nas condições de clima tropical, recomenda-se que o avanço diário do silo não seja inferior a 25 cm, o que significa um avanço de 1,75 metros/semana. Como calcular? Como cálculo do avanço diário pode ser inexato, aconselha-se a colocar uma estaca no dia x, no local onde se encontra a silagem e após 7 dias (dia x + 7) medir a distância que foi percorrida com o fornecimento da silagem.
Exemplo que esse manejo pode afetar a qualidade da silagem pode ser visualizado na Tabela 1. Este trabalho realizado na Itália mostrou que tanto a temperatura da silagem como o valor de pH se mantiveram adequados quando o manejo semanal do painel teve maior avanço. A explicação para a melhor qualidade da silagem e, conseqüente, maior produção dos animais é devido ao fato de que quanto maior for o avanço, menor quantidade de oxigênio fica em contato com a silagem e menor quantidade se adentra para o silo. Assim, é possível reduzir o grau de oxidação dessa silagem.
A oxidação da silagem é causada por leveduras, bactérias aeróbias e fungos filamentosos. As leveduras têm maior ação sobre essa deterioração, por serem microrganismos unicelulares e, dessa maneira, possuidores de metabolismo rápido. São consumidoras de compostos solúveis (como os açúcares) e do ácido lático (produzido durante a fermentação), onde no consumo deste último permite que ocorra elevação do pH da silagem, gerando condições favoráveis ao crescimento de outros microrganismos. Com maior oxidação das leveduras, a geração de calor é maior o que explica a maior temperatura das silagens (Tabela 1), onde o avanço semanal do silo é menor.
Tabela 1. Diferentes avanços de painéis de silos.
Vale lembrar que manejo no pós abertura é assunto que deve ter maiores discussões e observações na propriedade, visto que as perdas nessa fase podem ser muito elevadas. Metaforizando, um silo pode ser considerado com um ser vivo, o qual, durante a exposição ao oxigênio, exige manejos diferentes e com respostas diferentes.
Qualidade da silagem oferecida ao animal é de responsabilidade da propriedade, pois este alimento é em muitos locais o único produzido porteira adentro, outros ingredientes e minerais que constituem a dieta dos animais, na maioria das vezes tem origem de fora da porteira.
Autores:
Rafael Camargo do Amaral Piracicaba – São Paulo
Zootecnista pela Unesp/Jaboticabal. Mestre e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP. Gerente de Nutrição na DeLaval. www.facebook.com.br/doctorsilage
Thiago Fernandes Bernardes Lavras – Minas Gerais
Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) – MG. www.tfbernardes.com
Fonte: Farmpoint